SONETO LVI
Prende sutil
metal entre la seda
que el pelo
envuelve y ciñe ilustremente,
sobre el puro
alabastro en punta queda;
o prende la vistosa pompa y rueda
del traslúcido
velo refulgente
debajo el
cuello tierno y floreciente,
en quien o ni el pesar ni el tiempo pueda;
que en mí será tu aguda punta ociosa,
y de nuevo
herir o dar favores
no puede outra
virtud en ti escondida,
mientras hay viva nieve y blanda rosa,
y en
desmayados ojos resplandores
árbitros de la
muerte y de la vida.
A
figura central deste soneto possui as caraterísticas de uma mulher ideal. As
suas feições não são fortemente individualizadas. O retrato que aqui se
delineia é o da mulher em geral, como que a mais nobre abstração da beleza
feminina.
Esta
mulher é perfeita na sua beleza à maneira de Petrarca: a sua face é «excelsa»,
a sua pele branca rosada, (se não, vejamos a metáfora «puro alabastro», ou
ainda «viva nieve»), a sua boca, pela cor vermelha comparada a uma rosa, é «blanda rosa», os seus olhos são de cor clara e de grande atrativo: «desmayados
ojos resplandores».
Também
sobressai a sua graça, que cativa o sujeito poético e que, neste soneto, nos é
sugerida por meio de adjetivos ou advérbios encarecedores. Assim, é graciosa a
sua imagem com o cabelo apanhado num rico laço: «la seda / que el pelo envuelve
y ciñe ilustremente», o aspeto deslumbrante que se associa à aura divina: «la
vistosa pompa», «traslúcido velo refulgente», a ternura que nos é sugerida
através da sinédoque «cuello tierno y floreciente.» A beleza do seu colo
mantém-se inalterada apesar do sofrimento e do tempo que passa e que, supostamente,
deixaria marcas: «el cuello tierno y floreciente, / en quien o ni el pesar ni
el tiempo pueda». O elemento feminino conserva, deste modo, a sua beleza e
juventude.
É
de notar o forte impressionismo da linguagem de Rioja neste soneto que, por meio
de metáforas, nos apresenta um quadro bastante pictórico da mulher amada. O
aspecto visual é muito marcado nesta composição. O retrato da mulher amada
é-nos dado através de fortes impressões visuais: o laço que prende os cabelos
loiros do elemento feminino: «Prende sutil metal [...] el rico lazo que de
excelsa frente / sobre el puro alabastro en punta queda». De notar o pormenor
com que é descrito o modo como o laço se encontra na cabeça da figura feminina.
Há toda uma riqueza de pormenores descritivos que conduz à visualização da
imagem: «el rico lazo que de excelsa frente sobre el puro alabastro en punta
queda;»
Na
segunda quadra, é-nos descrito o laço que se prolonga para além do colo da
figura feminina: «Y rueda [...] debajo el cuello tierno y floreciente,» Temos
então uma imagem visual riquíssima, pormenorizadamente descrita. A
subjetividade não está ausente do poema, pois a imagem da mulher amada é-nos
sugerida por meio de impressões sensoriais fortemente visuais: “vistosa pompa”,
“velo refulgente”, «cuello tierno y floreciente,», «ojos resplandores».
O
amor que o sujeito poético sente pela mulher é um amor puro, que procura
libertar-se da mácula da sensualidade como meio de ascender à contemplação
divina. A imagem desta mulher é quase divina, envolve-a uma certa aura, como se
de uma deusa se tratasse. Por outro lado, o véu também pode significar uma
barreira que separa o homem da mulher amada que se oculta por detrás do véu, o
qual, por ser translúcido, deixa passar a luz mas não permite ver os contornos
da imagem. A mulher está, assim, envolta num certo ar de mistério: «traslúcido
velo refulgente.»
Importante
é também determo-nos sobre a expressão «tu aguda punta ociosa», «tu» este que
se refere ao elemento feminino. Esta aguda ponta retoma a ponta do laço do v.
4, significando, porém, aqui o poder de sedução, uma como que flecha que atinge
quem se deixa seduzir e que é, neste caso, o sujeito poético: «que en mi será
tu aguda punta ociosa». É feita então uma analogia entre este poder de sedução
e a ponta do laço que, terminando em bico, é comparado à capacidade de seduzir,
que é penetrante.
Este
poder de sedução do elemento feminino sobre o elemento masculino que dá a voz
no poema, provém dos olhos da dama que constituem um atrativo e são a fonte de
sedução desta mulher. Como é habitual desde a Idade Média, os olhos possuem uma
grande valorização na lírica amorosa, surgem aqui como uma metáfora. É pelo olhar que ela seduz: «que
en mi será tu aguda punta ociosa [...] y en desmayados ojos resplandores». O
olhar é o reflexo, o espelho da alma, transmite o poder de sedução.
A forma do
verbo «ser» não tem aqui o mesmo significado que a forma do mesmo verbo
implícita no v. 13. No primeiro caso, a expressão «en mi será» significa que o
sujeito poético é o alvo da capacidade de sedução desta mulher, aparece-nos com
o sentido de «ter efeito». No v. 13
a forma verbal implícita «será» surge-nos semanticamente
como o lugar de proveniência, a fonte. Por outro lado, estes olhos têm um
grande poder de atuação sobre o sujeito poético, eles determinam sobre a vida
ou a morte deste: «y en desmayados ojos resplandores / árbitros de la muerte y
de la vida». Os olhos claros e brilhantes da mulher amada determinam a
esperança ou a ilusão do sujeito poético (aqui homem apaixonado) em relação a
ser ou não correspondido no amor. A ponta ociosa aqui mencionada e que retoma a
ponta do laço por um processo de analogia, pode ser comparada à flecha de
Cupido que pode feri-lo (atraí-lo) ou então corresponder-lhe no amor. Mais
nenhuma outra virtude que possa existir nela pode desalentá-lo ou dar-lhe
esperança. No soneto XII de Garcilaso também a mulher nos é apresentada como
possuidora de virtudes que se opõem: ela é fonte de candura e ternura, mas
também a mulher fatal que guarda distância e impõe respeito.
A relação de
superioridade desta dama face ao sujeito poético mostra-se no facto de ele
estar completamente dependente das ações desta mulher que o domina e que podem
ser-lhe benéficas ou nocivas: «y de nuevo herir o dar favores / no pueda outra
virtud en ti escondida;». Se ainda há aqui alguma esperança em ser correspondido
amorosamente, no soneto LIV de Rioja não há nenhuma. A mulher amada suscita
nele a chama ardente que ele procura em vão apagar.
Neste
soneto torna-se evidente a preocupação com a beleza da linguagem, a qual é
testemunho de um grau de perfeição e refinamento que se comprovam pela
utilização de termos encarecedores que conferem nobreza à figura aqui
representada. Temos então a presença de adjetivos: «sutil metal», «excelsa
frente» e de um advérbio «ilustremente» para designar a nobreza do aspeto da
mulher amada com o cabelo apanhado com um laço. A linguagem com que este
retrato é feito é claramente positiva e enobrecedora.
Podemos
concluir que esta composição, de influência marcadamente petrarquista, reflete
um trabalho de grande mestria que confere uma enorme beleza ao soneto.
Bibliografia
-CHIAPPINI, Caetano, Fernando de Herrera y la Escuela Sevillana, Taurus, Madrid, 1985.
-Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XXI, Editorial Enciclopédia, Limitada, Lisboa, s/d.
Bibliografia
-CHIAPPINI, Caetano, Fernando de Herrera y la Escuela Sevillana, Taurus, Madrid, 1985.
-Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XXI, Editorial Enciclopédia, Limitada, Lisboa, s/d.
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